Agro brasileiro: supersafra não significa lucratividade para produtor – Miguel Daoud

Agro brasileiro: supersafra não significa lucratividade para produtor

By 10/02/2024Artigos

O agronegócio brasileiro, apesar de ser um dos pilares da economia nacional, enfrenta um paradoxo: safras recordes não se traduzem em lucratividade para o produtor rural. Na safra 2022/23, por exemplo, a produção de grãos atingiu 322,8 milhões de toneladas, um aumento de 4,1% em relação à safra anterior.

No entanto, a rentabilidade do setor não acompanhou esse crescimento.

Erro em relacionar supersafra com lucratividade:

É crucial entender que uma supersafra não garante automaticamente maior rentabilidade. A relação entre esses dois elementos é complexa e influenciada por diversos fatores.

Comparar apenas o volume da produção com a lucratividade pode levar a conclusões errôneas e a uma análise superficial da realidade do campo:

Fatores climáticos: A supersafra por si só, não garante lucratividade. Fatores climáticos como secas, inundações e pragas podem influenciar drasticamente a produção e a qualidade das colheitas, impactando negativamente os resultados financeiros dos agricultores.

Elevação dos custos de produção: O aumento dos preços de insumos como fertilizantes, defensivos agrícolas, combustíveis e mão de obra impacta significativamente os custos de produção, reduzindo a margem de lucro dos agricultores.

Queda dos preços das commodities agrícolas: O mercado de commodities agrícolas é altamente volátil, com preços que oscilam de acordo com a oferta e demanda global. Uma supersafra pode levar à queda dos preços, diminuindo ainda mais a lucratividade do setor

Investimentos e custos fixos: A agricultura exige investimentos em infraestrutura, maquinário e tecnologia, além de custos fixos com arrendamento de terras, impostos e mão de obra permanente. Esses custos impactam o resultado final, mesmo em cenários de supersafra.

Dívidas e inadimplência: O alto nível de endividamento é um problema crônico no setor agrícola brasileiro. As sucessivas crises climáticas e a queda de preços pressionam o pagamento de dívidas, elevando a inadimplência e dificultando o acesso a crédito.

Concentração de mercado e poder de barganha: A cadeia produtiva do agronegócio é marcada pela concentração de mercado, com grandes empresas detendo o poder de barganha na compra de insumos e na venda da produção. Isso limita a capacidade dos agricultores de negociar preços e aumentar a lucratividade

Vulnerabilidade a crises: O setor agrícola é altamente vulnerável a crises econômicas e políticas, que podem afetar o consumo de alimentos, os preços das commodities e o acesso a crédito.

Desigualdade social: A supersafra não se traduz em benefícios equitativos para todos os agentes do setor. Pequenos e médios agricultores, muitas vezes, enfrentam dificuldades de acesso à tecnologia, crédito e mercados, ficando à margem dos resultados positivos.

A supersafra agrícola brasileira, embora impressionante, não deve ser interpretada como um indicador direto de lucratividade. O setor enfrenta desafios complexos que exigem medidas para reduzir custos, melhorar a infraestrutura e aumentar a competitividade.

Medidas para aumentar a lucratividade:

Investimentos em pesquisa e desenvolvimento: para aumentar a produtividade e reduzir os custos de produção.

Melhoria da infraestrutura logística: para reduzir os custos de escoamento da produção.

Diversificação da produção: para reduzir a dependência de um número limitado de commodities.

Promoção de políticas públicas: que incentivem a sustentabilidade e a competitividade do setor.

Ao abordar a questão da agricultura no Brasil, é fundamental considerar todos os fatores que afetam a lucratividade do setor, e não apenas o volume da produção. Uma análise mais profunda da realidade do campo é essencial para o desenvolvimento de soluções eficazes que beneficiem os produtores rurais e o país como um todo.